A importância de se falar em cidadania global (Outubro/2022)

A concepção de Cidadania Global ganhou intensidade e amplitude, no início dos anos 90 do século XX. O fim da Guerra Fria fez emergir uma nova ordem geopolítica mundial: A Globalização. A Globalização, aqui entendida, se reporta às dimensões: política; econômica; cultural; ambiental; dos direitos humanos; religiosa; jurídica ;social; da comunicação; cidadã.

O novo contexto mundial levou a recontextualização  e o reposicionamento do Estado-Nação.  Potencializa tal momento a assinatura por parte dos principais países europeus do Tratado de Maastricht(1992) que culminou na formação da União Europeia.  Por meio deste tratado, os países signatários se comprometeram a cumprir as metas de livre circulação de pessoas, serviços, produtos e capital.Também nos anos 90 ,o Brasil, especialmente o Rio de Janeiro, sediou a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco-92.

Ressalto esses dois eventos históricos por entender que já apontavam um novo momento das relações entre os países. Transitava-se de um contato bilateral ou regional para relações globais  e universais.

Tendo como referência o cenário da Inglaterra, o modelo clássico de Cidadania proposto por  MARSHAL,1967,abarcava três direitos: civil, politico e social. Isso posto as relações transnacionais implicaram na amplitude da concepção de Cidadania

A Globalização impulsiona a proposta de Cidadania Global . A livre circulação de pessoas implica igualmente na liberdade de pensamentos, ações, ativismo e atores sociais que procuram estabelecer as relações entre o que é local, regional e global.

A Globalização fez de temas circunscritos ao nacional demandas de alcance e influência universais , gerais e globais .

A fome, a emergência climática, os direitos humanos, a democracia , o multiculturalismo , a tolerância religiosa , as diversidades étnicas e culturais ,a orientação sexual , o trabalho e o acesso à tecnologia , à saúde, à ideia de um novo modelo de consumo ,à educação ,à igualdade de gênero  são algumas entre várias outras preocupações que se fazem presentes pelo mundo globalizado.

A fome ou a violência de gênero em algum lugar mais remoto e distante do planeta são questões que tocam ,afetam e colocam em situações de ameaça a existência humana. Em qualquer espaço territorial a violação dos direitos humanos representa a negação da humanidade.

Ser Cidadão Global é construir o sentimento de pertencer a um mundo comum a toda a humanidade. Responsabilidade humana na concepção ,elaboração e materialização do  mundo e valorização e respeito ao ser humano em suas múltiplas dimensões . É atuar no local para transformar o global. É ter ativismo global nos mais variados e diversos problemas que afetam a humanidade . Os desafios colocados nessas primeiras décadas do século XXI são gigantescos  em todos os sentidos .

O Papa Francisco ,na Encíclica “Frattelli Tutti”-Todos irmãos-(2020) , escrita em um dos momentos mais agudos da Covid-19 , aponta  no documento as ideias e o caminho a trilhar para a construção de um mundo justo e fraterno nas relações sociais.

E o Papa Francisco nos convida à Esperança (55)  nesse conflituoso e conturbado mundo . Reproduzo:

“Convido à esperança que nos fala de uma realidade cuja raiz está no mais fundo do ser humano, independentemente das circunstâncias concretas e dos conhecimentos históricos em que vive. Fala-se de uma sede , de uma aspiração ,de um anseio de plenitude, de vida bem-sucedida de querer agarrar o que é grande , o que enche o coração e eleva o espírito para coisas grandes , como a verdade , a bondade e a beleza,  a justiça e o amor. (…) A Esperança é ousada , sabe olhar para além das comodidades pessoais , das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte, para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna.”

Concluo, afirmando que  ativar a  Cidadania Global é assumir o compromisso ético, político e espiritual com o que há de mais humano em cada um de nós. É perceber a nossa importância como agentes transformadores de mentes e corações. Promover a vida digna a todos os seres humanos em todo o planeta. É ousar e ampliar o horizonte humano. É ter e multiplicar a Esperança como nos ensina o Papa Francisco.

Por Orlando Amendola, professor de História