A importância de se falar em cidadania global (Maio/2023)
A concepção de Cidadania Global ganhou intensidade e amplitude no início dos anos 90 do século XX. O fim da Guerra Fria fez emergir uma nova ordem geopolítica mundial: A Globalização. A Globalização aqui entendida se reporta nas dimensões: política; econômica; cultural; ambiental; direitos humanos; religiosa; jurídica; social; comunicação; cidadã.
O novo contexto mundial levou a recontextualização e o reposocionamento do Estado-Nação. Potencializa tal momento a assinatura por parte dos principais países europeus do Tratado de Maastricht(1992) que culminou na formação da União Européia Por meio desse tratado, os países signatários se comprometeram a cumprir as metas de livre circulação de pessoas, serviços, produtos e capital.Também nos anos 90 ,o Brasil, especialmente o Rio de Janeiro sediou a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco-92.
Ressalto esses dois eventos históricos por entender que já apontavam um novo momento das relações entre os países. Transitava-se de uma contato bilateral ou regional para relações globais e universais.
Tendo como referência o cenário da Inglaterra o modelo clássico de Cidadania proposto por MARSHAL,1967- abarcava três direitos: civil, politico e social. Isso posto as relações transnacionais implicaram na amplitude da concepção de Cidadania
A Globalização impulsiona a proposta de Cidadania Global . A livre circulação de pessoas implica igualmente na liberdade de pensamentos, ações, ativismo e atores sociais que procuram estabelecer as relações entre o que é local, regional e global.
A Globalização fez de temas circunscritos ao nacional demandas de alcance e influência universais , gerais e globais .
A fome, a emergência climática, os direitos humanos, a democracia, o multiculturalismo, a tolerância religiosa, as diversidades étnicas e culturais, a orientação sexual, o trabalho e o acesso à tecnologia, a saúde, a ideia de um novo modelo de consumo, a educação, a igualdade de gênero, são algumas entre várias outras preocupações que se fazem presentes pelo mundo globalizado.
A fome ou a violência de gênero em algum lugar mais remoto e distante do planeta são questões que tocam, afetam e colocam em situações de ameaça a existência humana. Em qualquer espaço territorial a violação dos direitos humanos representa a negação da humanidade.
Ser Cidadão Global é construir o sentimento de pertencer a um mundo comum a toda a humanidade. Responsabilidade humana na concepção ,elaboração e materialização do mundo e valorização e respeito ao ser humano em suas múltiplas dimensões . É atuar no local para transformar o global. É ter ativismo global nos mais variados e diversos problemas que afetam a humanidade . Os desafios colocados nessas primeiras décadas do século XXI são gigantescos em todos os sentidos .
O Papa Francisco ,na Encíclica ‘Frattelli tutti”-Todos irmãos-(2020) , escrita em um dos momentos mais agudos da Covid-19 , aponta no documento as ideias e o caminho a trilhar para a construção de um mundo justo e fraterno nas relações sociais.
E o Papa Francisco nos convida à Esperança (55) nesse conflituoso e conturbado mundo . Reproduzo:
Convido à esperança que “nos fala de uma realidade cuja raiz está no mais fundo do ser humano,independentemente das circustâncias concretas e dos conhecimentos históricos em que vive.Fala-se de uma sede , de uma aspiração ,de um anseio de plenitude, de vida bem-sucedida de querer agarrar o que é grande , o que enche o coração e eleva o espírito para coisas grandes , como a verdade , a bondade e a beleza , a justiça e o amor.(…) A Esperança é ousada , sabe olhar para além das comodidades pessoais , das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte,para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna. Caminhemos na esperança!
Concluo, afirmando que ativar a Cidadania Global é assumir o compromisso ético, politico e espiritual com o que há de mais humano em cada um de nós. É perceber a nossa importância como agentes transformadores de mentes e corações. Promover a vida digna a todos os seres humanos em todo o planeta. È ousar e ampliar o horizonte humano. É ter e multiplicar a Esperança como nos ensina o Papa Francisco.
Por Orlando Amendola, professor de Estudos Sociais do Colégio Anchieta