A importância dos Exercícios Espirituais e do Discernimento para formadores inacianos nas escolas jesuítas (Junho/2024)

Deus abençoa cada pessoa sem exceção, mas, muitas vezes, por vários motivos que surgem ao longo da caminhada, preferimos acreditar que não somos abençoados ou que não precisamos dessa bênção. Essa descrença ou ferida torna-se terreno fértil para nos sentirmos indignos do amor divino ou até mesmo incapazes de amar.

Esse sentimento de desamor é intensificado por dois graves problemas da modernidade: a tecnologia e o isolamento. A tecnologia (epidemia global) e o isolamento (o indivíduo como centro da vida) convencem as pessoas de que o propósito da vida é não ter preocupação com os demais, apenas consigo mesmas. Esses dois desafios podem ser tratados através dos Exercícios Espirituais, com o intuito de resgatar e restaurar a dignidade da pessoa humana.

No texto sobre o Princípio e Fundamento, Inácio menciona que toda pessoa humana é criada para Deus e só encontra felicidade completa em Deus. E por isso, Inácio assegura que devemos escolher somente o que mais nos conduz a alcançar esse fim, deixando de lado os apegos desordenados a tudo o que nos impede de tê-lo em nossa vida.

É nesse sentido que o amor se faz essencial, pois é ele a motivação que nos leva à ação, permitindo-nos exercer o amor pela humanidade e direcionando-nos para a maneira mais adequada de agir. Esse amor-ação contribui para a formação integral do indivíduo, tornando-o consciente das necessidades dos demais; competente no serviço aos outros; compassivo com os outros e comprometido com Deus, com a vida e com a justiça.

A opção pelo amor traz consequências. Jesus optou pelo amor. Ele permaneceu fiel ao Deus de amor. Jesus experimentou e conheceu as consequências. Essas consequências lhe custaram a própria vida. Inácio nos coloca intimamente com Jesus em seu sofrimento. Esta proximidade com o sofrimento de Jesus nos toca o coração e nos ensina sobre compaixão.

No entanto, o olhar sagrado de Deus sobre nós restaura nossa vida, em um desejo de cura pessoal, de liberdade e experiência autêntica de amor. Inácio nos apresenta a natureza de Deus como puro amor, pura beleza e pura verdade.

Assim como os Exercícios Espirituais nos formam para sermos pessoas de Deus, o mesmo acontece com o discernimento. Inácio estava empenhado na formação de pessoas humanas, ou seja, homens e mulheres de discernimento, pois para ele era notório que o processo de discernimento é essencialmente transformador, criando uma comunidade de amigos, amigos do Senhor, encarregados de uma missão comum.

Daí a importância de os formadores inacianos serem pessoas de profunda oração e de discernimento pessoal, cujas vidas foram moldadas pelos Exercícios Espirituais para que a identidade jesuíta/inaciana seja preservada.

A modernização trouxe uma pluralização de opções, fazendo com que a fé religiosa se torne uma opção entre outras. Ela também trouxe a difusão global da cultura do consumo. No atual ambiente digital, as opções e possibilidades apresentadas multiplicam-se. Tudo isso porque estamos em uma era expressionista e é essencial que nossos estudantes se sintam respeitados em suas crenças, mas também é fundamental que demonstremos o mesmo respeito à nossa fé, a mesma fé que proporciona à escola a sua missão e a sua razão de ser.

Nós sabemos que precisamos estar atentos ao que o Papa Francisco chama de “conversão pastoral e missionária”, pois é necessário fazer diferente, lançando mão da esperança e da criatividade. Nesse desafio, já temos como grandioso aliado os Exercícios Espirituais.

Por Claudia Frez, Professora de Ensino Religioso