
A pedagogia inaciana – ação política como experiência e profundidade (Agosto/2022)
A pedagogia dos jesuítas é eminentemente uma pedagogia de pesquisa e se faz numa dimensão política e coletiva, onde os agentes se envolvem e participam neste redimensionamento da construção do conhecimento. Isso vem desde a Ratio Studiorum, uma das primeiras organizações em Educação Jesuíta. A pesquisa exige exercícios, produções, simulações, ensaios, tempo, experiências e vivências. Qualquer mudança pedagógica que queiramos fazer, primeiramente, temos que observar o tanto que ajuda o aluno a ser um construtor, um inventor, usar a criatividade, ser original, um ser político.
As Características da Educação da Companhia de Jesus insistem na profundidade, na originalidade.
Vivemos em um mundo de muita superficialidade. O mundo é epidérmico. Atualmente, a centralidade das relações, sejam elas humanas, com a natureza e os bens, está no imediatismo, nos resultados rápidos, na pouca concentração de esforços. Há pouca profundidade nas relações humanas e nos valores sociais. Ao contrário, a Educação Jesuíta nos chama a viver e experimentar a profundidade, a relação com a vida e a formação integral, conforme nos apontam as Características da Educação da Companhia de Jesus.
Uma vez que a educação é um processo que se prolonga por toda a vida, a educação jesuíta tenta inculcar uma alegria de aprender e um desejo de aprender que permaneçam para além dos tempos de colégio. Mais, talvez, que a formação que lhes damos, vale a capacidade e a ânsia de continuarem se formando que possamos infundir-lhes. Aprender é importante, mas muito mais importante é aprender a aprender e desejar continuar aprendendo, durante toda vida. (Características da Educação da Companhia de Jesus, 1989, p. 46)
Como experiência integral de formação, consideramos a indagação: Como aprendemos? A resposta está na disposição para aprender. A disposição para aprender é o ânimo. Santo Inácio de Loyola dizia: grande ânimo e generosidade. A boa vontade de aprender é a motivação. A valorização dos pré-saberes, do conhecimento novo e do ciclo cognitivo.
Muito aproveita, ao que recebe os exercícios, entrar nele com grande ânimo e liberdade para com o seu Criador e Senhor, oferecendo-lhe todo o seu querer e liberdade, para que sua divina majestade, assim de sua pessoa como de tudo que tem, se sirva conforme a sua santíssima vontade. (EE, nº 5)
A liberdade em dispor ânimo e generosidade para o serviço, dispondo-se a aprender, coloca todo o ser nesta disposição para mais aprender. Observa-se, assim, aquilo que o indivíduo é e traz consigo como saberes.
A pedagogia tradicional não valoriza os pré-saberes. Estes devem ser apurados, diagnosticados, para que possam dialogar com os novos conhecimentos adquiridos. Importante é levar o aluno a perceber o quanto traz de conhecimento e confrontar com o que ele produziu de conhecimento novo.
O educador é aquele que ajuda a aflorar aquilo que ele não plantou dentro do aluno. A construção do conhecimento é dialogada. Os alunos têm informação de maneira rápida e fácil e dispõem de inúmeras ferramentas que possibilitam o contato com dados. A escola não fornece mais dados, mas aponta a direção da construção do conhecimento. Nesta nova proposta, o que chama inovação, o professor não pode ser um mero despejador de conteúdo, um verificador. Deve, sim, atiçar o aluno ao conhecimento. O foco deve ser a aprendizagem, motivar o aluno para que ele aprenda de fato.
O PEC – Projeto Educativo Comum, da Rede Jesuíta de Educação, insiste na centralidade do aluno no processo de aprendizagem. O aluno não é somente um receptor. Diante de um saber externo, quem se atreve? Ninguém fala nada. Ninguém se expõe. Toda a formação tem que ser uma construção política.
Fomos educados em um modelo linear de ensino, e estamos desejosos de um novo jeito de ensinar. Assim, vamos nos encantando com esta experiência política de quebra de paradigmas, enfrentando os desafios, e levando a esperança para uma educação inovadora e um mundo melhor.
Assim, o PEC nos inspira aos sonhos e à novidade. Fazer novo e fazer mais, inspirando para a vivência e a experiência da construção de uma sociedade mais profunda, justa e fraterna, assumindo, no novo e no criativo, novas possibilidades de fazer a diferença neste processo de construção comunitária, política e coletiva.
Como um fogo que acende outros fogos, o PEC vem iluminar e conduzir novas práticas, com coragem, ânimo e criatividade. É característica de Pedagogia Inaciana o caráter político, humanista e humanizador. Não há como negar que a criatividade é elemento essencialmente humano e que deve ser priorizado, potencializado, para que gere frutos na construção de um indivíduo pleno, integral, com dons e qualidades colocados a serviço de Deus e dos demais, na edificação de um mundo mais justo solidário e fraterno.
Por Prof. Me. Maylon Adame da Motta
COMISSÃO INTERNACIONAL PARA O APOSTOLADO DA EDUCAÇÃO. Características da educação da Companhia de Jesus. São Paulo: Edições Loyola, 1989.
REDE JESUÍTA DE EDUCAÇÃO. Projeto Educativo Comum. Edições Loyola, 2016.