A prática da leitura na construção de identidade (Dezembro/2023)

A leitura, embora a princípio simples, faz parte de um processo que requer uma complexa produção de sentidos orientados pela bagagem sociocognitiva do indivíduo. É daí que surge a natureza interativa da atividade de ler, pois o sujeito não está a sós com o objeto-livro, mas sim mantendo um diálogo entre seus diversos conhecimentos e aquilo que se encontra na página. A leitura, portanto, não pode ser dissociada do sujeito.

O ato de compartir histórias, inicialmente realizado de forma oral, tomou novas concepções com o advento da imprensa e a popularização de jornais e livros. O que antes era realizado de maneira coletiva passa então a ser uma experiência individual, interna e silenciosa. O leitor, dessa forma, interioriza o conteúdo apresentado e lhe atribui significados, aparentemente de forma isolada.

A escola, grande responsável pela difusão do hábito da leitura no Brasil, é considerada como um local privilegiado de formação leitora. É nela que professores e alunos irão trabalhar conjuntamente, com o intuito de formar não só , como cidadãos críticos capazes de fazer uso da leitura nas mais diversas esferas da sociedade. Para que isso ocorra, a leitura deve fazer sentido na vida do leitor. Não pode estar, deste modo, dissociada do sujeito. O gosto pela leitura está atrelado a sua história de vida, suas experiências e desejos. É pelo contato com diferentes histórias, lendas e contos que haverá uma construção e reconstrução de sentido, diretamente afetando sua própria identidade e realidade.

Por esta razão, o ato de ler deve ser, em primeiro lugar, algo prazeroso e gratificante. O sujeito-leitor deve estar aberto à possibilidade de mudança, tanto de seu pensamento quanto de seu eu interior. A leitura abre caminhos para a construção de espaços de fantasia, que permitem uma narrativa interna,

amplamente vinculado com histórias e universos culturais extrínsecos, criando assim um elo entre o sujeito e o coletivo e o vinculando de forma imanente à sua própria condição humana. A literatura é, conforme defende Antonio Cândido, um direito legítimo do homem e condição indispensável de humanização do sujeito. Indo além, o autor ressalta que talvez não haja equilíbrio social sem a literatura.

A valorização da pluralidade de sujeitos é, isto posto, condição essencial para que se atinja a própria humanidade presente em caráter individual. Por conseguinte, isso significa abrir espaços ao outro, ao diferente. A nível de literatura, é importante que a prática de leitura se estenda também à literaturas minoritárias, que relatem vivências e experiências opostas à do leitor. Assim, se estará formando não apenas leitores, mas pessoas comprometidas com a efetivação de sua própria cidadania.

Por Josianne Teixeira de Freitas, Estagiária do Colégio