Ansiedade na adolescência em tempos de isolamento social (Agosto/2023)
A ansiedade é um termo amplo que descreve um estado de preparação para enfrentar situações de perigo. Quando ansiosos, animais e seres humanos apresentam reações como o aumento da atenção voltada para o ambiente e a ativação de respostas corporais. (SOUSA et al., 2014, p. 101).
Segundo Beck e Clark (2012), “a ansiedade é um estado emocional complexo, prolongado, que muitas vezes é desencadeado por um medo inicial.” A ansiedade é provocada por pensamentos catastróficos e eventos futuros imaginados.
A presença e a duração desses sintomas podem causar grande sofrimento e prejuízos ao adolescente, caracterizando até mesmo um transtorno de ansiedade.
Segundo Papalia e Feldman (2013), nas sociedades modernas, a passagem da infância para a vida adulta é marcada por vários eventos que se denominam adolescência. Essa transição envolve mudanças físicas, cognitivas, emocionais, sociais e pode assumir várias formas, dependendo do contexto cultural e econômico.
Além da aparência e das mudanças físicas, a forma como os jovens falam e pensam também tende a se modificar durante a adolescência. (PAPALIA et al., 2013, p.404). A capacidade de pensar em termos mais abstratos traz implicações emocionais.
A visão que os adolescentes têm sobre as emoções e a forma de lidar com elas também estão relacionadas às crenças que estão sendo construídas. Segundo Beck (1997), as crenças são ideias que o sujeito tem em relação a si mesmo, ao mundo e às pessoas à sua volta. Se desenvolvem na infância, a partir da interação com outras pessoas significativas, e continuam se desenvolvendo quando encontram uma série de situações que as confirmam. A dificuldade em compreender a emoção os leva a se sentirem confusos acerca das situações e impotentes quanto ao que fazer.
Em relação ao aspecto psicossocial, Papalia e Feldman (2013) citam a teoria de Erikson.
“A identidade forma-se quando os jovens resolvem três questões importantes: a escolha de uma ocupação, adoção de valores sob os quais irão viver e o desenvolvimento de uma identidade sexual satisfatória.”
Isolamento social pode ser passivo ou ativo. Passivo é aquele que passa por motivações internas. O sujeito se afasta do grupo por ser tímido, por sentir-se ansioso, por exemplo, em contrapartida o ativo diz respeito ao sujeito ser excluído, não por vontade própria, mas pelos outros ou pelas circunstâncias (COPLAN; RUBIN, 2007; OH; RUBIN; BOWKER; BOOTH-LAFORCE; ROSE-KRASNOR; LAURSEN, 2008; RUBIN; MILLS, 1988; RUBIN; BUKOWSKY; PARKER, 2006).
No caso da pandemia experimentada pelos jovens, recentemente, o que se observa é um afastamento do convívio provocado por circunstâncias, logo um isolamento ativo, impedindo vivências importantes para o amadurecimento, a autoconfiança e a autoestima.
Os estudos mostram existir forte relação entre isolamento social e maior incidência de sentimentos como ansiedade e depressão na população de crianças e adolescentes. (ALMEIDA; REGO; TEIXEIRA; MOREIRA, 2020).
A partir disso faz-se necessário acompanhamento psicoterápico. De acordo com Leahy (2011), o tratamento psicológico comprovadamente eficaz para os transtornos de ansiedade na infância e adolescência é a terapia cognitivo-comportamental (TCC).
Beck (1997) afirma que a abordagem cognitivo-comportamental consiste basicamente em provocar uma mudança na maneira alterada de perceber e raciocinar sobre o ambiente e, especificamente, sobre o que causa a ansiedade (terapia cognitiva), bem como mudanças no comportamento ansioso (terapia comportamental).
Leahy (2011) relata que o tratamento do transtorno de ansiedade envolve três estágios primordialmente: a psicoeducação, a reestruturação cognitiva e as intervenções baseadas em exposições e prevenções de resposta ao estímulo ansiogênico, atendendo assim às necessidades dos adolescentes viabilizando o auto manejo dos sintomas.
Por Andrea Goldani Pinheiro, Mãe de Aluna
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Isabelle Lina; REGO, Jaqueline Ferraz; TEIXEIRA, Amanda Carvalho Girardi; MOREIRA, Marília Rodrigues. Isolamento social e seu impacto no desenvolvimento de crianças e adolescentes: uma revisão sistemática. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1984-0462/2022/40/2020385 acesso em 20/01/2022>. Acesso em: 13 jul. 2019.
BECK, Aaron T.; CLARK, David A. Vencendo a preocupação com terapia cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2012.
BECK, Judith S. Terapia Cognitiva – Teoria e Prática. São Paulo: Artmed, 1997.
LEAHY, Robert L. Livre de ansiedade. Porto Alegre: Artmed, 2011.
PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth D. Desenvolvimento Humano. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
RUBIN, K. H.; WOJSLAWOWICZ, J. C.; BURGESS, K. B.; ROSE-KRASNOR, L.; BOOTH-LAFORCE, C. L. The best friendships of shy/withdrawn children: Prevalence, stability, and relationship quality. Journal of Abnormal Child Psychology, 2008, 34, 139-153.
SOUZA, João Paulo M.; OSÓRIO, Flávia de L.; SCHNEIDER, Bruno Z.; CRIPPA, José Alexandre de S. Transtornos de ansiedade (transtorno de ansiedade generalizada, ansiedade de separação e fobia social). In: ESTANISLAU, Gustavo M.; BRESSAN, Rodrigo A.; (Org). Saúde mental na escola: o que os educadores devem saber. Porto Alegre: Artmed, 2014. p.101 – 117.