Acolhimento…
Por trás do prédio imponente e das enormes e centenárias palmeiras que circundam o Colégio Anchieta, o que eu encontrei ao entrar pela primeira vez naquela que veio a se tornar a minha escola e a minha segunda casa, em 2001, foi acolhimento. Nas paredes daquele casarão amarelo, fotos de ex-alunos que passaram por ali, levaram consigo experiências, amizades e diversos ensinamentos, e que deixaram para trás carinho e gratidão por tudo que receberam nesta instituição, que faz muito mais do que nos preparar para o vestibular. Posso afirmar com convicção que o Anchieta prepara cada um de seus alunos para a vida.
Todo o suporte que recebi, desde aulas extras em matérias nas quais tinha dificuldade, atividades extracurriculares como teatro e prática de esportes, além de muitas viagens para fora do estado, me permitiram realizar sonhos e me geraram um enorme sentimento de pertencimento. Todos que ali trabalhavam me faziam sentir segura, protegida e completamente em família.
Foi no Anchieta, naquele casarão amarelo, que eu tive os meus primeiros questionamentos raciais. Hoje, me reconheço como uma mulher preta em constante transformação e aprendizado. Naquela época, entrando na adolescência, além dos dilemas normais desta fase, me sentia incompleta, sem informações sobre mim e sobre a minha história. Os estudos me permitiram entender que o que eu sentia era necessidade de me conhecer. Mais do que isso, eu precisava me assumir. Assumir os meus traços negróides seria o primeiro passo. Levou um tempo, mas, o processo que surgiu de forma embrionária na escola, ganhou força na faculdade e vingou por completo na fase adulta. A semente que foi plantada no início dos anos 2000 aflorou, e hoje, gera um grande orgulho.
A minha carreira também começou a ser moldada durante os meus cinco anos de aprendizado no Anchieta. Bons estudos, boas oportunidades, livros, aulas de língua estrangeira e uma enorme vontade de ouvir e contar histórias, me permitiu ingressar em uma boa faculdade e ser a primeira pessoa da família, a família Silva, da comunidade do Rui Sanglard, em Nova Friburgo, a ter um diploma de ensino superior. Trazer esta conquista para casa, para as minhas mais velhas, tem sabor de missão cumprida.
Por tudo isso, agradeço por ter tido a chance de escrever a minha história no Colégio Anchieta.
Gratidão eterna!
Por Carmen Lúcia da Silva, antiga aluna da turma de 2007.
