No Brasil, onde 9,3% da população sofre de ansiedade (OMS, 2022) e 32% dos trabalhadores enfrentam burnout (ISMA-BR, 2023), cuidar do bem-estar físico e emocional nunca foi tão urgente. Deixou de ser um luxo – tornou-se uma necessidade. A boa notícia? Pesquisas recentes demonstram que transformações significativas começam com pequenas mudanças sustentáveis no dia a dia.
O verdadeiro autocuidado não está nos pacotes de bem-estar que o mercado tenta vender. Não se trata de consumir produtos caros, seguir modismos passageiros ou dedicar horas extras ao “trabalho em si mesmo” – o que, muitas vezes, só aumenta a culpa e a frustração. Está no simples, no possível, nos detalhes do cotidiano que negligenciamos por parecerem insignificantes. É o copo d’água que esquecemos de tomar, os três minutos de respiração consciente antes de uma reunião ou o “não” dito com tranquilidade para estabelecer limites saudáveis.
Cuidar de quem ensina e de quem aprende faz com que nossa abordagem com os alunos reflita a formação integral da Pedagogia Inaciana em suas três dimensões:
Na esfera cognitiva, incentivamos pausas ativas entre as aulas e técnicas de estudo que respeitam os ritmos biológicos;
Na esfera socioemocional, programas como o “Projeto de Vida” trabalham autoconhecimento e gestão de emoções;
Na esfera espiritual-religiosa, momentos de silêncio contemplativo e projetos solidários cultivam propósito.
Essa formação integral se completa quando educadores e estudantes compartilham práticas de autocuidado, criando uma cultura organizacional saudável. Esse cuidado cotidiano reflete o magis inaciano – a busca por viver com mais profundidade, sentido e presença, sem cair no excesso ou na produtividade exaustiva.
Na prática, o que realmente funciona? A neurociência comprova que pequenos rituais incorporados à rotina têm impacto profundo:
Respiração de 1 minuto: Um estudo da Universidade de Harvard (2023) revela que 60 segundos de respiração diafragmática – inspirando por 4 segundos, mantendo o ar por 4 segundos e expirando por 6 segundos – reduzem os níveis de cortisol em até 18%, criando uma barreira natural contra o estresse agudo.
Caminhada com propósito: Pesquisadores da USP (2022) descobriram que 10 minutos de caminhada consciente (atenção intencional aos passos e à respiração) trazem benefícios equivalentes a 30 minutos de exercício convencional na regulação da ansiedade.
Micro-jejum digital: Segundo o Instituto Delete (UFRJ, 2023), intervalos de 40 minutos sem interrupções digitais aumentam a produtividade em 27% e reduzem significativamente a fadiga mental.
No Colégio Anchieta, transformamos o autocuidado em uma prática institucional. Na Coordenação do Ensino Médio, incentivamos hábitos como a hidratação consciente – com lembretes e espaços dedicados para atingir a quantidade ideal de água diária. O Clube do Livro, parte da formação continuada, tornou-se um espaço seguro para trocas humanas e descontração entre os profissionais. Programas sazonais, como a Semana de Valorização da Mulher, oferecem bem-estar coletivo com atividades no Parque Aquático do Colégio. A Pastoral, em parceria com a Coordenação Cristã, organiza retiros que resgatam a dimensão espiritual como fonte de equilíbrio. Nossa infraestrutura integrada à natureza – com restaurante de alimentação balanceada e salas de convivência acolhedoras – cria um ecossistema de cuidado.
Outro exemplo é a atividade “Vivi”, desenvolvida pela Pastoral em diálogo com as coordenações de segmento. Surge de uma escuta atenta às demandas dos alunos, adaptando-se às necessidades socioemocionais e espirituais de cada turma. Em um espaço seguro, os estudantes refletem sobre relações, valores, sentimentos e propósito de vida, registrando experiências de modo sensível. A atividade integra as dimensões socioemocional, espiritual-religiosa e relacional, promovendo autoconhecimento e vínculos a partir de uma perspectiva compassiva.
O Recanto da Preguiça, já realidade no Colégio, é um novo capítulo dessa jornada. O espaço convida educadores a pausas intencionais, lembrando que descansar é parte essencial do aprender, ensinar e viver com qualidade.
Acreditamos que o autocuidado também se constrói coletivamente, por meio de gestos simples que, somados, transformam o ambiente escolar e a qualidade de vida. Se cada um der um passo – mesmo pequeno – em direção ao cuidado de si e do outro, criaremos juntos um espaço mais humano, compassivo e saudável. Que tal começar hoje?
Roberta Lansilotti, Psicóloga e Mediadora Educacional
