Cigarros Eletrônicos: Uma Ameaça Silenciosa à Saúde dos Adolescentes (Janeiro/2024)
Fui aluno do Colégio Anchieta e tive o privilégio de aprender com meu avô, o professor Cláudio Costa, um grande defensor da proteção de crianças e adolescentes contra as influências nocivas da indústria do tabaco. Hoje, enfrentamos um novo e preocupante desafio no Brasil: a popularização dos cigarros eletrônicos, também conhecidos como VAPE. Apesar de serem proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), esses dispositivos têm atraído cada vez mais jovens. Esse cenário é alarmante, pois muitos acreditam, de forma equivocada, que os VAPEs são menos prejudiciais que os cigarros tradicionais e que não causam dependência.
Originalmente, os cigarros eletrônicos foram promovidos como uma ferramenta para ajudar fumantes a abandonar o tabagismo. No entanto, estudos apontam que eles podem ser até vinte vezes mais prejudiciais que os cigarros convencionais. O vapor liberado por esses dispositivos não é inofensivo, como se imagina; ele contém uma mistura perigosa de substâncias tóxicas, como benzeno e formaldeído, que podem causar graves danos pulmonares e outras complicações de saúde, mesmo após pouco tempo de uso. Essa falsa sensação de segurança é um dos principais fatores que levam tantas pessoas, especialmente os jovens, a utilizarem esses dispositivos.
O apelo dos cigarros eletrônicos entre os adolescentes é particularmente preocupante. A ampla oferta de sabores, como frutas e doces, os torna mais atraentes e agradáveis ao paladar. Além disso, a ausência do cheiro forte característico do cigarro convencional facilita o uso em ambientes fechados e contribui para sua aceitação social. Essa aparente “inofensividade” mascara os perigos reais: a exposição precoce à nicotina afeta negativamente o desenvolvimento cerebral, especialmente nas áreas ligadas ao aprendizado, memória e controle de impulsos. Além disso, o uso de VAPEs pode aumentar a probabilidade de transição para o tabagismo tradicional, perpetuando um ciclo de dependência.
Os danos causados pelos cigarros eletrônicos vão muito além da dependência química. Entre os jovens, seu uso tem sido associado a problemas respiratórios, maior risco de doenças cardiovasculares e até distúrbios de saúde mental. O vapor inalado, repleto de substâncias químicas, pode desencadear reações adversas graves no organismo, comprometendo o bem-estar físico e emocional. Esse é um alerta que não pode ser ignorado, pois está em jogo a saúde e o futuro de toda uma geração.
Diante desse cenário, é essencial adotar medidas eficazes de conscientização e prevenção contra o uso de cigarros eletrônicos. As ações para combater essa prática devem estar embasadas em evidências científicas e na educação sobre os riscos envolvidos. Além disso, é fundamental que as autoridades públicas e a sociedade como um todo se unam contra as estratégias da indústria do tabaco, que utiliza a desinformação para enfraquecer políticas de saúde pública.
Proteger nossos jovens dos perigos associados aos cigarros eletrônicos é um compromisso que exige esforços contínuos. Apenas com ações coordenadas e informadas conseguiremos garantir um futuro mais saudável para nossos adolescentes e para as próximas gerações.
Por André da Costa Furtado, Médico Pneumologista e de Terapia Intensiva