É preciso entender a obsolescência perceptiva (Agosto/2022)

Imagine que você está na rua usando o celular ou mesmo no trabalho usando seu notebook que funciona perfeitamente bem e escuta de um colega que novo modelo já foi lançado e que você precisa se atualizar. Caso já tenha acontecido, você não está sozinho nessa onda de consumismo desenfreado.

Esse é um exemplo de obsolescência perceptiva, uma estratégia que vem sendo usada por algumas empresas para estimular o consumismo. Essa estratégia consiste em desvalorizar precocemente um produto, apelando para o lado emocional do consumidor, refletindo diretamente na sustentabilidade.

No conceito de obsolescência perceptiva, o objeto em totais condições de uso passa a ser considerado obsoleto devido ao lançamento de uma nova versão ou alguma alteração.

De acordo com alguns estudos, a popularização da ideia da obsolescência perceptiva foi atribuída a Brooks Stevens, um famoso designer de automóveis americano, a partir da década de 1960. A ideia propagada por Brooks era de que os empresários deveriam induzir os consumidores através de propagandas a comprarem no decorrer de um ano, e no ano seguinte os empresários iriam apresentar novos produtos que tornassem os adquiridos anteriormente antiquados. Embora alguns indivíduos se opusessem à estratégia, preocupados com a ética, outros a reconheciam como forma legítima de garantir mercados e assim a redução do ciclo de vida dos produtos tornou-se recorrente no universo empresarial até os dias de hoje.

É o reforço da ideia de que o novo é sempre melhor que o antigo e deve ser descartado, produzindo o chamado e-lixo. A única intenção nessa lógica é incentivar uma substituição de bens e produtos, ainda em condições de uso, por outros novos. O apelo emocional é tão eficaz que o consumidor sente um verdadeiro desconforto por não possuir o que há de mais recente no mercado.

De acordo com um estudo divulgado pela UNU (United Nations University), somente em 2019 foram geradas no mundo todo 53,6 milhões de toneladas métricas de resíduos descartados de elétrico eletrônicos, chamado de e-lixo. A cifra representa um aumento de 21% em apenas cinco anos. O estudo também concluiu que apenas 17,4% desse total foi coletado e reciclado.

Além das partes aparentes de metal e plástico, o e-lixo pode conter substâncias tóxicas contaminantes como mercúrio, cádmio, berílio e chumbo, nocivos para a saúde humana e para o meio ambiente. Por isso, não há exagero em afirmar que o e-lixo é hoje uma ameaça ao desenvolvimento sustentável.

No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal 12.305/10) instituiu, entre outras medidas, que empresas responsáveis pela fabricação e venda de equipamentos eletro-eletrônicos são responsáveis por executar a logística reversa, que é a coleta e encaminhamento da sucata de volta à fábrica para o descarte adequado.

É urgente rever o modelo de crescimento econômico baseado nos conceitos da obsolescência perceptiva.  Reflita antes de decidir trocar algum de seus equipamentos eletroeletrônicos por conta de uma novidade anunciada sem utilidade aparente. Pergunte-se se você está baseando sua escolha em uma real necessidade ou está sendo levado pela onda do consumismo e inversão de valores sobre o ser e o ter.

Por Emily de Paula, Coordenadora do Ensino Bilíngue

e Elaine Guaralde, Professora

Entenda a obsolescência perceptiva. ECYCLE. Disponível em: <https://www.ecycle.com.br/obsolescencia-perceptiva/#O-que-e-obsolescencia-perceptiva>. Acesso em: 31 de agosto de 2022