
JUBILEU 2025 – Peregrinos da esperança
O Ano Santo foi instituído em 1300 por Bonifácio VIII. Sofreu algumas variações ao longo dos anos (período, modalidades ordinária e extraordinária), mas não perdeu a sua essência de celebrar o “dom da graça” por meio das práticas religiosas e devocionais do perdão, indulgência e peregrinação aos lugares santos. Este Ano Santo de 2025 será ordinário, ou seja, segue o formato periódico de 25 em 25 anos.
O contexto histórico iluminativo, relembrado pelo Papa Francisco, é o da pandemia. O povo ainda vive sob a fragilidade e o medo deixados pelas marcas cruéis da pandemia: incertezas e mortes. O jubileu nos ajudará a olhar para o futuro com esperança e a buscar meios alternativos para construir os próximos anos e cuidar da Criação. Precisamos adubar nossa vida e nela semear a esperança de um futuro melhor.
O ano jubilar caracteriza-se pela renovação, marcada pela justiça, cuidado, autoconhecimento e esperança. Como podemos alcançar esses objetivos, traçados pela Sagrada Escritura no livro de Levítico, por meio da conversão?
Ao longo de seu pontificado, o Papa Francisco cunhou vários conceitos sobre a Igreja, destacando o conceito de “Igreja em saída”. O Ano Santo de 2025 tem como tema “Peregrinos da Esperança”. O tema do ano jubilar e o conceito de uma Igreja em saída têm muito a nos inspirar, assim como a vida e a espiritualidade de Santo Inácio de Loyola, que se autoidentifica como peregrino.
Creio que essas visões conceituais se complementam, pois elas nos dão uma ideia de movimento: a Igreja em movimento, tanto no aspecto físico quanto no espiritual e existencial. Sair do espaço físico implica também romper com o estado confortável, abandonando os laços do espaço-tempo e do egoísmo. Esses laços nos tornam enclausurados em nosso próprio ambiente, muitas vezes estagnados, embotados em pensamentos, sentimentos, tradições, ritos, concepções e modelos que não nos permitem enxergar além do nosso próprio horizonte.
Uma Igreja que se jubila por meio do ano santo não pode permanecer a mesma. Ela não pode passar ilesa. Esperamos que ela saia pelos campos, aldeias, cidades, ruas e estradas ao encontro do outro, esquecido e deixado à beira do caminho. A Igreja deve saber procurar e encontrar os diversos “Bartimeus” à margem dos caminhos.
Assim como Jesus, a Igreja deve estar sensível aos clamores e ecos dos gritos da terra, da natureza aflita, dos refugiados e transeuntes, da população de rua, dos povos originários e das colônias de refugiados. Deve estar pronta para perguntar: “O que queres que eu te faça?” Jesus escuta, chama para si o cego Bartimeu à margem do caminho. O cego ouve a voz de seu mestre, salta de alegria e inicia sua peregrinação até Jesus, a Porta Santa.
O cego vê em Jesus a porta da esperança, a Porta Santa, a possibilidade de vislumbrar novos horizontes. E Jesus, por meio do cego, atravessa as inúmeras cegueiras da humanidade e restitui ao cego aquilo que ele mais desejava: ver.
O cego peregrina até Jesus, mestre do ver, a porta da esperança, a Porta Santa para Bartimeu. E Deus, através de seu Filho Jesus Cristo, peregrina pela humanidade, trazendo esperança, confiança e amor a seu povo. O cego que agora vê segue o caminho de Jesus como discípulo, e Deus bate à porta de nossos corações.
“O que queres que eu te faça?” Esta pergunta é a chave para abrir a Porta Santa do jubileu. A Igreja em saída vai ao encontro dos feridos pelos caminhos, fazendo curativos nas feridas da carne, do espírito, das emoções e do psíquico. Às pessoas, a Igreja leva o alívio do azeite e do vinho, o unguento que recupera a possibilidade de uma vida abundante.
O Ano Jubilar de 2025 quer favorecer os fiéis, através da peregrinação pelas igrejas ao redor do mundo, a reencontrar a esperança para viver em um mundo que soterra a vida, agindo violentamente sobre a Criação. Embora haja uma forte influência de “turismo” às igrejas romanas, ao Vaticano e a Roma, estendendo-se pela Europa, o espírito jubilar não é e não pode ser o espírito do turismo. Mas sim, o espírito de romaria pelas igrejas do mundo, do país, do estado, do município ou da cidade, em busca da esperança de viver a plenitude da vida renovada pelo perdão, indulgência e peregrinação física e espiritual.
Assim como Inácio de Loyola saiu de sua terra e de si mesmo para se entregar à vontade de Deus, somos chamados a sair de nós mesmos e ir ao encontro da verdadeira Porta Santa, Jesus Cristo. Esta é a esperança que move o coração do peregrino: desejar, procurar, encontrar e realizar a vontade de Deus.
Por Pe. José Carlos, SJ