O desafio da alimentação mundial: luxo para poucos ou hábito acessível? (Junho/2024)

O potente e emocionante poema “O Bicho”, escrito por Samuel Bandeira, retrata como o fenômeno da fome é capaz de desumanizar um indivíduo e igualá-lo a um mal qualquer, invisível diante da imensidão de um aterro sanitário em busca desesperada por alimento. Por intermédio de uma prima forte e perspicaz, a obra literária representa com maestria o cenário brasileiro no qual os disparates sociais, semeados pela ditadura da beleza, impõem principalmente às mulheres uma sociedade que entende a alimentação saudável como um luxo para poucos. Dessa forma, torna-se notável a urgência necessária de mitigação dessa pauta.

Basicamente, é indispensável reconhecer o sistema capitalista selvagem que comanda a sociedade contemporânea como um dos principais agentes promotores da elitização do consumo de alimentos saudáveis no Brasil. Tal engrenagem político-econômica não só incentiva a industrialização e o uso de agrotóxicos nos insumos, como solidifica uma estrutura social permeada por exacerbada desigualdade, uma vez que prioriza o luxo em detrimento de tudo e todos. Assim, em um país no qual conseguir se alimentar já é um privilégio, fazê-lo de forma nutricionalmente equilibrada é uma verdadeira utopia para grande parte da população. Adriana Cunha Lopes é um exemplo claro dessa problemática, pois sobrevive dos restos de comida e outros descartados.

Ademais, a ditadura da beleza, meio encontrado pelo patriarcado para controlar os corpos femininos, também se configura como um fator desafiador no que tange à alimentação saudável. Muitas mulheres, convencidas de que sua única função social é ser bonita a fim de conquistar um casamento, acabam adoecendo na busca por uma perfeição estética inalcançável. O filme norte-americano “Preciosa” aborda essa temática e comprova como os transtornos alimentares afetam a saúde das brasileiras e seus hábitos alimentares.

Por fim, é evidente que a pauta do desafio da alimentação saudável precisa ser suavizada. Para tal, o governo federal deve, por meio do envio de verbas, ampliar as áreas de suporte alimentício baseado em uma balança nutricional equilibrada para as comunidades mais marginalizadas, bem como financiar produções cinematográficas, sejam filmes ou séries, desenhos conscientizados com o objetivo de tornar a alimentação saudável um hábito acessível a todos.

Alice França Miranda, Aluna da 3ª Série do Ensino Médio