
O papel da economia nos “desacordos” internacionais (Julho/2024)
Vive-se um momento ácido, espinhoso e singular na história humana. A ascensão de visões extremistas, o crescimento das hostilidades e o afloramento de tensões pelo mundo se tornam cada vez mais um desafio maior do tempo presente. Os desdobramentos dos conflitos e a escalada de tensões vêm se tornando assuntos recorrentes de jornais, podcasts e das aulas de geografia. Nesse cenário, a escola acaba sendo palco de discussões e debates a respeito de diversas temáticas sobre tais assuntos.
De fato, a presença desses tópicos geopolíticos deixa as aulas mais dinâmicas. O conhecimento prévio dos alunos, que são bombardeados por essas informações nas redes sociais, é algo que impulsiona o debate. Todavia, o interesse pela política internacional não pode estacionar até esse ponto. Discutir tais situações globais de maneira técnica, econômica e política se torna muito raso sem a perspectiva da alteridade.
Entender as raízes de tais movimentações é importante para que se possa buscar uma resolução pacífica. É certo que são muitas nuances e complicações que impedem uma solução mais imediata. Porém, a vida de milhões de pessoas tem sido afetada enquanto se debate soluções e se explicam as origens dos conflitos. No entanto, refletir sobre as ações tomadas, combater preconceitos e opressões são fundamentais para que não se perca aquilo que aproxima uns dos outros, em um planeta Terra que cada vez mais se mostra desumanizado.
A fome é usada como arma de guerra, a intolerância religiosa é usada como justificativa de rivalidades territoriais. Os ataques que no início miravam estruturas econômicas como ferrovias, linhas de transmissão e centrais energéticas agora objetivam afetar as pessoas. Mísseis caem e explodem em áreas civis, escolas, hospitais, e isso cada vez mais afasta de uma resolução pacífica dos conflitos.
Em uma breve pesquisa no Google por esses conflitos geopolíticos, as matérias noticiam, de maneira mais enfática, a relação das guerras como um empecilho ao crescimento econômico, a abertura de juros e as previsões do mercado internacional. O pensamento econômico está vindo sempre à frente do armistício. As resoluções se concentram em estabelecer uma alternativa financeira que agrade as partes conflitantes. Até quando será necessário usar a economia para buscar uma resolução para as tensões globais num contexto em que os mais afetados não estarão interessados em sanções econômicas?
Ou seja, a solução dos conflitos não passa por aqueles que estão na linha de frente, que perderam suas casas e familiares. É evidente, portanto, que se a promoção da paz parte da resolução do problema econômico, a economia desigual é a razão para a maioria das desavenças. Entretanto, no desenrolar dos debates e comitês das Nações Unidas parece que diminuir as desigualdades, erradicar a fome e a pobreza não são pensadas como solução nesses “desacordos” internacionais.
Ressalta-se que economia significa administração da casa, e é preciso cuidar da nossa casa comum. Cuidar de um planeta diverso que permita a coexistência pacífica de todos os grupos, etnias e culturas.
Ter uma geração que se interessa pelas relações internacionais é maravilhoso e valioso. É preciso impulsioná-los na busca de um mundo mais pacífico para o seu desenvolvimento como sujeitos sociais e como parte produtiva da humanidade. E a solução pode estar em promover educação de qualidade para gerar líderes futuros que entendam que a economia é fundamental, mas não deve ser pensada de forma isolada, pois a paz se torna impraticável com tamanha injustiça social.
Por João Zebende, Professor de geografia