O que é cultura? (Novembro/2023)
A complicada diferença entre arte, cultura e entretenimento.
Já foi Michel Teló, Romero Britto, Zé do Caixão, Madonna, Chaves. Agora, é Mc Pipokinha. Isso tudo é cultura? E se não é cultura, é o quê? Diversão? Entretenimento?
Acontece que cultura não é sinônimo de arte, como muitos pensam. E tanto pensam que chamam de culto aqueles que ouvem música clássica alemã ou entendem de literatura francesa. Cultura é o oposto de natureza, o domínio do homem sobre a natureza. Tanto que até para o Iluminismo francês, o termo cultura estava associado ao cultivo da terra, ao que hoje chamamos de agricultura.
Porém, não há juízo de valor no termo cultura. Dessa forma, sim, Chaves, Zé do Caixão e Mc Pipokinha são parte da cultura, tanto quanto Shakespeare. É na distinção entre arte e entretenimento que se torna perigoso discutir, pois lida com aspectos estéticos, ideológicos, de forma subjetiva.
Entretenimento é uma maneira de recriar ou divertir pessoas, ou um conjunto delas quando elas se reúnem. Segundo o dicionário Houaiss, divertir alguém é proporcionar a ela uma mudança de direção na sua rotina, desviar sua atenção.
Claro que muito do que é produzido como entretenimento pode, com o tempo, obter valor artístico, seja pela qualidade da obra, seja pela sua importância histórica. O seriado Chaves talvez seja um bom exemplo. Por outro lado, algo que seja produzido como arte pode acabar tornando-se puro entretenimento, como esses “videozinhos” virais da internet.
Discutir quais são os elementos, o que faz de um filme melhor do que outro, um livro melhor do que outro ou uma música melhor do que outra para um conjunto grande de pessoas é, talvez, o grande desafio para quem trabalha com cultura hoje.
A arte é intrínseca na nossa forma de viver, da nossa cultura civilizacional e da nossa identidade coletiva. As artes são parte fundamental daquilo a que chamamos de Civilização e Humanidade. Pelo que ocupam um espaço singular em cada um de nós, o espaço dos sentidos e das emoções.
As pessoas querem algo que mexa com elas, que permaneça em seu imaginário, que amplie seus horizontes e o jeito que veem o mundo. Isso só a arte faz. Pergunte para alguém ao seu redor qual foi o filme, o livro, o disco ou a peça de teatro que mais marcou sua vida. É difícil que alguma pessoa, mesmo que goste de funk, diga que essa música é de mais bom gosto do que uma sinfonia de Beethoven.
Fazer cultura é um direito de todos, até da Pipokinha. Já fazer arte é um ofício, um dom, um mistério.
Por Isabella Mozer, Antiga Aluna.