
O Uso do Entretenimento como Formador de Cultura e Controle de Massa(Maio/2025)
Quando o tema em debate é o controle de massa, a cultura sempre esteve e sempre estará, de maneira ativa, influenciando todas as principais decisões que precisam ser tomadas, seja como forma de análise ou reflexo. Entre tantos autores, convido para essa conversa Theodor Adorno, que, além de filósofo e sociólogo, também foi musicólogo e compositor. Seu extenso e crítico trabalho sobre a indústria cultural nos serve de auxílio para a constatação de que, desde sempre, o entretenimento tem sido usado para a formação ou não de opinião e conceitos.
Em seu artigo “A Indústria Cultural – Esclarecimentos”, Adorno argumenta que os detentores das mídias entenderam que o uso dessas plataformas causa não somente uma alienação em relação ao mundo ao redor, mas também que é possível, de forma mais sutil, fazer uma mudança nos ideais das pessoas, alterando não apenas comportamentos, mas também conceitos que antes pareciam imutáveis. A mídia se torna, assim, uma ferramenta poderosa nas mãos daqueles que a controlam, capaz de moldar a percepção da realidade e os valores sociais.
A expressão “Pão e Circo” tem origem na frase latina “panem et circenses”, usada pelo poeta romano Juvenal para criticar a superficialidade com que os governantes romanos mantinham o controle sobre a população. A estratégia era simples: fornecer alimento e entretenimento gratuitos para desviar a atenção das questões políticas e sociais mais importantes. Essa tática, que pode ser comparada às práticas contemporâneas de entretenimento de massa, é um exemplo claro de como as elites podem manipular a opinião pública e manter a estabilidade social através da distração, do entretenimento.
Na Grécia Antiga, as práticas culturais e os espetáculos públicos também desempenhavam um papel crucial na vida social e política. Os teatros gregos não apenas divertiam, mas também educavam o público, transmitindo valores e ideais através das tragédias e comédias. No entanto, esses eventos também serviam para reforçar o status quo, apresentando mitos e narrativas que sustentavam a ordem social existente.
Atualmente, observamos como a cultura de massa continua a desempenhar um papel crucial na formação de opiniões e na disseminação de ideologias. Programas de televisão, séries, filmes e, mais recentemente, conteúdos digitais nas redes sociais, todos servem para manter o público constantemente entretido. Isso, por sua vez, facilita a introdução de novas ideias e padrões de comportamento que podem ser vantajosos para certos grupos ou interesses. A indústria do entretenimento, ao padronizar o conteúdo e direcionar o foco das massas para temas superficiais, acaba por diminuir a capacidade crítica do indivíduo. As pessoas são bombardeadas com informações, mas raramente incentivadas a questioná-las ou a buscar um entendimento mais profundo dos assuntos. Essa saturação de entretenimento superficial pode levar a uma forma de conformismo cultural, onde a reflexão e inovação são desencorajadas. Além disso, a globalização da cultura de massa faz com que tendências e padrões culturais sejam difundidos rapidamente pelo mundo, criando uma homogeneização cultural. Isso pode resultar na perda de identidades culturais locais e na adoção de valores e estilos de vida que não necessariamente refletem as tradições e necessidades das diferentes sociedades.
“A cultura hoje está afetando tudo com a mesmice. Cinema, rádio e revistas formam um sistema.” (Adorno, 1947)
À medida que analisamos o papel do entretenimento na formação da cultura e no controle de massa, somos levados a questionar: até que ponto estamos conscientes das influências que moldam nossas opiniões e comportamentos? Será que estamos realmente vivendo em uma era de maior liberdade de expressão e diversidade cultural, ou apenas em uma versão atualizada do antigo “Pão e Circo”?
Clayton Maia, Coordenador Artístico Cultural