Política se faz todos os dias (Setembro/2022)
Em tempos de tanta polarização partidária, no cenário político atual brasileiro, a missão de expressar a grande arte democrática herdada pelos gregos em Atenas traz, para todos os homens e cidadãos de boa vontade, um desafio histórico de revisitar aquela pólis que fundamentava-se no conhecimento filosófico, na preocupação com o exercício da cidadania em um modelo direto de reflexão, diálogo e respeito aos diversos modos de perceber os problemas cotidianos com variadas visões para que as Ágoras testemunhassem a participação direta de seus cidadãos.
Por certo, é preciso compreender, sem anacronismos, que a realidade daquele período histórico quanto ao entendimento de quem realmente podia participar das decisões políticas, por vezes falhas e limitadas, após milênios de evolução é imprescindível que compreendamos a Política, a partir da luz da sabedoria temporal.
É de suma importância conhecer a grandeza de um homem que devotou sua vida à caridade e à educação dos mais necessitados, Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT) que, após intensa luta pela justiça, pelos povos indígenas, entre tantas outras causas missionárias e que partiu para a glória do Pai em agosto de 2020, não se cansava de repetir: “Tudo é política mesmo que o político não seja tudo”. Esta reflexão nos convida a perceber nossa identidade de cidadão, conquistada ao longo de muitos anos, a partir de muitos desafios, mártires e batalhas pelo direito de participação igualitária em um pleito democrático.
Todas as nossas ações em comunidade e na convivência humana são políticas, como conhecer nossos direitos e deveres, refletir sobre o que é correto ou não, estabelecer princípios básicos para melhor relacionar-se, estar atento à carta magna de nosso País e à Constituição Federal. Todos estes movimentos nos tornam, além de cidadãos políticos, habitantes cuidadosos de nossa casa comum.
Necessitamos de mentes e corações abertos ao diálogo fraternal, nestes tempos de inúmeras intolerâncias às diferenças comuns e naturais do ser humano. Sejamos partícipes de uma sociedade que depende e que espera de nós compromisso com os que mais sofrem, que anseia por discernimento em nossas práticas diárias em nosso modo de proceder com os irmãos e que sonha, independente das correntes ideológicas partidárias por um Brasil capaz de promover a justiça social, o respeito às instituições e, principalmente, o comprometimento de todo brasileiro. Que possamos entender que votar é um dos tantos meios de fazer parte do processo de cidadania. O dia a dia nos convoca a sermos verdadeiramente partícipes da política para que os políticos entendam que não são o fim único, mas instrumentos de um processo muito mais amplo de uma sociedade que quer sonhar e ver seus direitos respeitados.
Por Adriano Thurler, professor de História e Coordenador de Humanas