Por que olhar mais longe? (Agosto/2022)

A ciência consegue nutrir gerações inteiras das mais diversas maneiras. Nossos pais foram fascinados com as incríveis imagens do Telescópio Espacial Hubble e, no que acreditamos ser a ”era de ouro” da ciência, chegou nossa vez de crescermos acompanhando os saltos que a humanidade dá. No advento da Astronomia Moderna, detectamos diretamente as Ondas Gravitacionais resultantes da colisão de dois buracos negros há bilhões de anos. Uma nova maneira de observar o universo, onde sinais de gravidade podem ser interpretados como “sons”, fez com que, pela primeira vez, ouvíssemos as nuances gravitacionais que vagam pelo cosmos.

Como nada disso é suficiente, no dia 25 de dezembro de 2021, foi lançado o Telescópio Espacial James Webb. Depois de mais de 30 anos de planejamento, um instrumento mais sensível e potente que o Hubble orbita um ponto ainda mais distante do nosso planeta: o Sol-Terra L2 Lagrange (ou simplesmente Lagrange 2). Lá, num equilíbrio gravitacional além da Lua, está o Telescópio Espacial James Webb. Com 6,5 metros de espelhos com uma camada de ouro, observa o universo no infravermelho. Assim, é possível ver detalhes por trás das belas nebulosas que permeiam o espaço sideral. Sua localização permite captar luz com menor interferência e enxergar detalhes de campos ultra profundos com mais objetos e mais requinte que seu antecessor. Para quem acompanhou, a imagem do campo profundo tomada, pelo James Webb mostrando galáxias e detalhes nunca antes vistos no aglomerado SMAC 0723, ainda traz arrepios. Finalmente, estamos vendo o universo jovem com pouco mais de 200 milhões de anos após o Big Bang ou, se preferirem, 13 bilhões de anos atrás.

A missão do JWST (sigla para James Webb Space Telescope) não se resume a observar galáxias distantes. Seus instrumentos analisarão os dados de atmosferas de exoplanetas (planetas fora do nosso sistema solar) em busca de planetas que possuam características e condições propícias para o desenvolvimento de vida. Em suas primeiras observações, o espectro de um planeta gasoso parecido com Júpiter, porém com atmosfera quente chegando a 2400°C durante o dia, orbitando uma estrela a 640 anos-luz da Terra na constelação de Peixes, WASP 76b, revelou elementos como Cálcio, Ferro, Hélio, Lítio e, o mais importante, Água!

O James Webb ainda tem 5 anos de missão podendo se estender por mais 10. Estamos ainda no início das descobertas e, as poucas que fizemos, já foram possíveis ampliar consideravelmente todo o conhecimento até então em todas as áreas. Afinal, não foi somente a astronomia e a cosmologia que tiraram proveito dessa empreitada. As técnicas necessárias para desenvolver esse projeto afetarão nossa maneira de fazer engenharia, computação, química, óptica. Novos materiais foram desenvolvidos e logo estarão em uso nos nossos aparelhos de celular e roupas.

Dentre as citações famosas de grandes cientistas, acredito ser a mais célebre a de Isaac Newton que disse “se vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”. Toda geração enxergará mais e mais longe desde que ela se apoie sobre o conhecimento e sabedoria desenvolvida pela sua anterior. Como nossos pais que viram o Hubble revelando os confins do universo observável, está na nossa hora de vermos ainda mais distante no espaço-tempo com o James Webb. Por fim, só me resta a ansiedade do que estar por vir e de alimentar as próximas gerações com mais fascínio pelo Universo. Afinal, se somos feitos de poeira de estrelas, estudá-las é a maneira que o Cosmos encontrou de compreender a si mesmo. Que venha um futuro ainda mais brilhante!

Por Pedro Mineiro Cordoeira