Ser feliz é constitucional (Setembro/2023)
“Quando chegar o momento, esse meu sofrimento Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido, esse grito contido Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza Ora, tenha a fineza de desinventar
Você vai pagar e é dobrado Cada lágrima rolada nesse meu penar
Apesar de você Amanhã há de ser outro dia”
No ano de 1970, Chico Buarque compôs e interpretou, lançando também neste mesmo ano a canção “Apesar de você”. O “amanhã”, citado finalmente, chegou com a inserção da Carta Magna, esse dia é o nosso hoje, com o direito à liberdade.
A Ditadura Militar, com a edição do AI-5, passou a reprimir e a censurar qualquer tipo de obra artística, afetando o destino de vários segmentos da produção cultural no Brasil. A intencionalidade de calar a voz social comprometeu a qualidade de formação política, além da intelectualidade e sensibilidade das pessoas. Mesmo com a violência do Regime, grupos de esquerda e de direita utilizavam-se da cultura, numa desarmonia ideológica, que revelava posturas distintas.Enquanto de um lado um grupo se propunha a gerar uma arte política, do outro, o intuito era de apenas divertir as massas.
A vida cultural se renova nos Anos de Chumbo como um espaço raro para crítica desse período, ainda que de maneira alegórica, através das produções musicais. A esquerda influenciou a formação de jovens que posteriormente contribuíram com o nascimento, no dia 5 de outubro de 1988, da Constituição Federal, como já citado.
A Democracia torna a Cultura e o Lazer direitos fundamentais, assegurados, respectivamente, em seus artigos 215 e 6° da constituição, com intenção de melhorar a qualidade de vida e o pleno desenvolvimento pessoal e social dos cidadãos.
Segundo definição do Oxford Languages, lazer é “tempo que sobra do horário de trabalho e/ou do cumprimento de obrigações, aproveitável para o exercício de atividades prazerosas.” Partindo desta definição, o lazer remete a algo que oportuniza boas sensações, o que possivelmente pode gerar mais felicidade às pessoas. Também é importante citar que o lazer é envolvido pelo próprio direito à Cultura. Cultura esta, que para o filósofo Albert Camus, se não existir, junto da liberdade que ela pressupõe à sociedade, por mais perfeita que seja, não a faz passar de uma selva. Existiram tempos em que a censura ditatorial impossibilitava a amplitude da alegria. Atualmente, temos direito a ela. Que possamos e tenhamos oportunidade de ir ao encontro das fontes de felicidade. Sabemos, talvez com mais facilidade, como nutrir o corpo físico. Que possamos alimentar diariamente também nosso espírito através de experiências, sensações e sentimentos, esses, que normalmente são proporcionados pelas criações culturais e artísticas.
Por Natalia Duarte, Psicopedagoga