Setembro: o Mês da Bíblia (Setembro/2024)

Setembro é o período em que a Igreja, particularmente a católica, no Brasil busca aproximar, de forma mais intensa, os fiéis da Palavra de Deus. Promove-se o estudo e o aprofundamento dos textos sagrados, pois o conhecimento da Palavra de Deus estimula o desejo de vivê-la coerentemente. As pessoas e os grupos bíblicos, tanto de forma pessoal quanto em comunidade, dão dinamismo à Palavra viva, encarnada. Fortalecem-se na fé, na vida evangelizadora e na missão de peregrinos, levando a Palavra de Deus a todos os lugares.

O Mês da Bíblia favorece o desenvolvimento de uma espiritualidade bíblico-catequética. O método diário da Lectio Divina impregna o coração das pessoas com a Palavra de Deus. Além disso, a partilha do estudo, da reflexão pessoal e comunitária, as celebrações dos grupos de estudo bíblico, em família, em comunidade e nas igrejas paroquiais proporcionam vivência e movimento às comunidades de fé. Essa dinâmica favorece o contato com a vida real das pessoas: suas dificuldades, problemas, enfermidades e esperanças. Diante dessa realidade, não se pode ficar alheio. Algo deve ser feito, transformado, mudado. Surge o desejo e a esperança de mudança pessoal e comunitária, o que conduz a uma renovação no modo de viver e na relação com a criação, especialmente nestes últimos anos, em que a encíclica Laudato Si trouxe novas luzes à vida da Igreja. Deus continua a animar o mais profundo do ser humano para realizar o bem, manter a esperança, renovar-se, acolher e cuidar.

A cada ano, o estudo e a reflexão sobre a Palavra de Deus são realizados através de um livro específico. Para 2024, foi escolhido o livro de Ezequiel. Profeta do período do exílio babilônico, sua mensagem reforça a esperança e a renovação. A passagem dos ossos ressecados ilustra bem como Deus intervém com sua graça, trazendo vida nova a situações desoladoras, até mesmo de morte. As temáticas centrais do livro de Ezequiel (a visão dos ossos secos, o novo coração e o novo espírito) são desenvolvidas sob a luz de um lema específico: “Porei em vós o meu espírito e vivereis” (Ez 37,14), destacando a centralidade do Espírito Santo. Essa mensagem ganha relevância no contexto atual, em que pessoas e comunidades enfrentam desafios ambientais, espirituais, sociais, físicos e psicológicos. O convite de Ezequiel à confiança na promessa de Deus e à ação do Espírito Santo traz esperança e renova o desejo por uma vida mais plena, com vigor, paz, saúde, respeito e cuidado.

A Bíblia não é a Palavra de Deus exclusiva para o mês de setembro; ela é a voz de Deus que clama em nossos desertos diários, nos convidando a viver segundo o Espírito, que nos conduz à plenitude de Deus. O dinamismo da Igreja, renovado anualmente pelo estudo e oração das Sagradas Escrituras, através da Lectio Divina, do Batismo, da Eucaristia, da misericórdia e do perdão dos pecados, traz esperança e renovação à Igreja, às comunidades, aos lares, às famílias e aos vizinhos. A Bíblia conduz o povo ao encontro com Jesus Cristo em suas vidas.

O Mês da Bíblia, como um tempo de memória da salvação, nos oferece páginas a serem lidas diariamente, todos os anos, com atenção, generosidade, abertura de coração e ânimo. A Bíblia deve ser meditada, criando-se relações entre as profecias, os salmos, as narrativas evangélicas e as cartas, que falam de Deus e de seus sinais de presença em nossa história. Ela deve ser contemplada, imaginada e recriada pela nossa imaginação. Ver com os olhos do coração as cenas em que Jesus fala, e o que Ele diz às multidões, aos discípulos, aos fariseus, saduceus, sacerdotes, e a todos nós – prostitutas, cobradores de impostos, cegos, coxos e aleijados. A voz de Deus chega a todos. Sua luz penetra qualquer fresta em nossa vida e história. Ele nos respeita conforme o nosso momento e nossa estrutura humana. Não nos violenta nem nos força, mas nos sintoniza ao ritmo do seu coração. Até que possamos dizer: “Entra, Senhor, a casa é tua, casa onde sempre estiveste presente, mas nem sempre te hospedei como deveria”. Ou: “Talvez eu quisesse te acolher melhor, com um café, como Tu gostas”. Ele sempre esteve conosco à mesa, porém, nem sempre o acolhemos tão bem.

A Bíblia é a Palavra da graça, frutífera e vivificante, que pesca milhares de peixes – homens e mulheres de todas as idades, raças, línguas e condições sociais – unindo-os em uma só rede ou árvore: a Igreja.

Por José Carlos Ferreira, SJ. – Orientador Espiritual do Colégio Anchieta, Nova Friburgo.