
Tríduo Pascal, Caminho para a Vida Nova (Abril/2025)
O Tríduo Pascal é um momento muito importante da espiritualidade cristã. Não se trata de três celebrações separadas, mas de um único e profundo mistério vivido em três etapas. Nele, a Igreja revive os momentos centrais da fé: a entrega amorosa de Jesus, sua morte na Cruz e a vitória da Ressurreição. Essa vivência não é apenas uma lembrança, mas a atualização de um amor que transforma e dá sentido à nossa existência.
Durante esses dias, somos convidados a acompanhar Jesus em sua total entrega. Começamos na Quinta-feira Santa, com o gesto do Lava-pés e a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, quando o Mestre se faz aquele que serve e, também, aquele que se dá em alimento. Passamos pela Sexta-feira Santa, dia de silêncio e contemplação do Cristo crucificado, expressão máxima do amor que se doa até o fim. Contudo, não se trata de nos fixarmos na dor e no sofrimento, mas de contemplar o amor de Deus. E, finalmente, no Sábado Santo, mergulhamos na espera confiante, até a explosão de alegria da Vigília Pascal, quando a Luz vence a escuridão e a Vida triunfa sobre a morte.
O Tríduo não é apenas um acontecimento litúrgico. Ele revela um movimento que se estende à vida pessoal. Na Quinta-feira Santa, somos convidados a partilhar com o outro, principalmente em suas necessidades. É algo que vai muito além de dar esmola ou ajuda: é sentir a dor do outro como própria, já que todos fazemos parte do único Corpo de Cristo, que é a Igreja. Assim, a dor do outro também se torna minha dor. No silêncio da Sexta-feira, somos chamados a olhar para a morte. Muitas vezes, a vemos como algo acidental, distante de nós, uma exceção que acontece de vez em quando. Por isso, o convite, na Sexta-feira da Paixão, é perceber que a morte é inerente à vida humana e a torna ainda mais preciosa — sem esquecer, porém, que a morte de Jesus foi provocada, um martírio. Com isso, somos instigados a viver bem o hoje, imitando Cristo. Essa transformação acontece aos poucos, nas pequenas escolhas do cotidiano.
Além disso, o encontro com o Cristo Ressuscitado não nos deixa iguais. Ele nos impulsiona a uma Vida Nova, mais atenta, mais comprometida com a justiça, com o cuidado pelo próximo e com toda a criação. Isso se simboliza lindamente no rito do Fogo Novo, em que se acende o Círio Pascal, marcado pelos sinais do Crucificado. A Ressurreição não se encerra no crer, mas é uma fé que transborda de mim e alcança o outro, consolidando-se em um modo de viver pautado pela partilha, pelo perdão, pela escuta, pela esperança e pelo acolhimento.
Celebrar o Tríduo Pascal é também abrir os olhos para a presença de Deus nas coisas simples. É deixar-se tocar pela beleza de um gesto de carinho, pela força de uma comunidade que caminha unida, pela coragem de recomeçar como peregrinos da esperança. Como ensina Santo Inácio, é ver Deus em tudo e perceber que Ele caminha conosco, mesmo nas noites escuras da vida.
O Tríduo Pascal é passagem. É travessia. É o movimento de Cristo que sai de si para vir ao nosso encontro, assumindo nossa dor, nossas cruzes e nossas mortes, a fim de nos conduzir à vida plena. E, ao mesmo tempo, é o nosso movimento de saída: saímos do egoísmo, do medo, da desesperança, para entrar na dinâmica do amor, da confiança e do cuidado com o outro. Como os discípulos, esse caminho nos transforma ao longo da jornada. A Vida Nova molda nosso coração e nossa forma de ver e estar no mundo. A experiência do Cristo ressuscitado nos tira da paralisia e nos coloca em missão. Tornamo-nos homens e mulheres de esperança, peregrinos atentos às necessidades dos outros, prontos a partilhar, acolher, perdoar e servir.
Que, neste Tríduo Pascal, sejamos inspirados a ser construtores de pontes, promotores da paz e cultivadores da esperança. Gente que, como Jesus, escolhe amar até o fim.
Por Fernando Chabudt de Freitas, Agente de Pastoral