Yoga e qualidade de vida (Setembro/2023)
Atualmente, a palavra “yoga” e todas a imagens associadas a esta prática (ou a esse caminho que vai bem além das posturas) remetem à ideia de qualidade de vida. Mas, muitas pessoas me dizem suspirando: “eu sou muito agitada para isso”, “não consigo me concentrar”, “não é para gente como eu (acima do peso, mais velha, com vários “emperrados” pelo corpo”… E aí, será que é para desistir sem nem tentar?
A boa notícia é que o yoga é justamente para você. Embora no mundo virtual a palavra seja quase sempre associada a pessoas magras, flexíveis e aparentemente tranquilas e imperturbáveis, essa é uma roupagem criada para vender o “produto” yoga.
E sim, existem escolas e professores que estimulam a competitividade, a busca de beleza e perfeição dos movimentos. Esses praticantes seguem seu caminho e são respeitados, mas estão longe de ser a maioria ou de representar o que realmente é o yoga. Porque não há um único representante, nem no ocidente nem no oriente.
Dentro da nossa realidade, o yoga traz uma possibilidade enorme de cuidado integral com o corpo, as emoções, a mente e a espiritualidade de modo gentil. O primeiro ensinamento é a não violência, que começa com você mesmo. Se está doendo ficar numa postura, não force. Se está muito puxado , afrouxe. Abra espaço de dentro para fora, respire grande e aceite quem você é aqui nesse momento- essa pessoa confusa, que muitas vezes se sente dentro de um turbilhão. Ela pode continuar exigindo sua atenção. Mas que tal, ao invés de sempre ceder aos apelos do que você “tem que fazer”, dar uma chance para saber como você de fato está e se acolher sem julgamentos? É sobre isso.
Essa é uma atitude importante que a gente desenvolve no tapetinho e leva para a vida. Aprender a tentar algo diferente e não ficar de mal consigo mesmo porque não conseguiu perfeitamente logo de cara. Sentir seu corpo e suas emoções com apreciação ao invés das múltiplas cobranças sobre como eles deveriam estar. Tem dia que a gente está inchado, inflamado, preocupado, mas o tapetinho e o professor estão ali pedindo apenas a sua abertura e seu olhar para dentro. Ah, e que você deixe o celular de lado também por alguns minutos.
Aprender a relaxar de forma consciente também é muito valioso. Não pense que aquelas pessoas tranquilas das fotos e vídeos são assim ou tempo todo e muito menos que elas são assim “por natureza” ou personalidade. Ok, tem gente assim, que já nasceu zen. Quem bom que elas existem! Mas estar tranquilo consigo mesmo e com os outros e o mundo ao seu redor é mezzo benção, mezzo processo de aprendizado. Aprender a desapegar do controle e apreciar estar vivo.
O yoga é cheio de paradoxos. Para quem está começando ou para quem quer se dar a chance de começar, talvez o mais importante seja entender que: os resultados aparecem super rápido, maaaaaas… Abra mão de querer sempre conquistar alguma coisa ou ter alguma vitória para exibir. As vitórias são internas: aprender a se conectar com a respiração, desenvolver o sentido do seu corpo no espaço, poder se emocionar e deixar uma lágrima cair deitado no tapetinho sem ninguém ver ou julgar, dormir dentro ou fora da aula como há anos você não dormia… Nada “instagramável”, mas tudo isso e muito mais faz a gente se sentir vivo de verdade.
E por último, mas não menos interessante: o yoga refina a nossa espiritualidade. Faz a gente silenciar um pouco a tagarelice interna para ouvir o nosso coração, e isso é de fato divino. Mesmo que você não tenha religião ou tenha uma ou várias, ou esteja buscando… É sobre saber se aquietar e se esvaziar, e se abrir . Cultivar o “entrego, confio, aceito e agradeço” em qualquer circunstância ou momento, difíceis ou fáceis. Para além das palavras repetidas na mente, sentir essas flores no coração.
Por Dra. Maria Clara Rebel, Psicóloga, especialista em psicologia junguiana e professora de yoga