O documento Ethically Aligned Design (EAD)1, publicado em março de 2019, ressalta o impacto que a tecnologia pode ter nos padrões éticos essenciais, destacando a inter-relação entre ética e tecnologia presente nas discussões sobre as implicações na sociedade. Ele indica que o desenvolvimento de sistemas tecnológicos, inclusive de inteligência artificial, deve estar alinhado eticamente aos valores humanos, com o estabelecimento de diretrizes sociais e políticas para que tais sistemas permaneçam centrados no ser humano, servindo aos valores e princípios éticos da humanidade.
A ética e a transparência no meio digital devem ter como norte a dignidade da pessoa humana, garantindo que todos possam desfrutar dos direitos humanos no ambiente físico e digital, exercendo plenamente a cidadania.
A cidadania digital pode ser entendida como a relação entre cidadãos globais que utilizam a tecnologia de maneira ética e responsável. Com ou sem acesso ao ciberespaço, somos cidadãos digitais, com direitos, deveres e responsabilidades tanto no ambiente físico quanto no virtual.
Diante da crescente exposição à aprendizagem e às tecnologias no mundo digital, é fundamental que crianças e adolescentes aprendam a utilizar ferramentas como segurança online, proteção de dados, comportamento online positivo, etiqueta digital, pesquisa inteligente, filtro de informações no ambiente virtual, reputação virtual, responsabilidade digital sobre condutas inadequadas online e consequências pelo comportamento das personas digitais, principalmente quando se trata de usuários crianças e adolescentes sem supervisão no ciberespaço, que podem estar expostos e se tornarem vítimas ou serem protagonistas de comportamentos inadequados em relação a outros usuários.
A empatia é um elemento fundamental no ensino da cidadania digital, pois é essencial para compreender como as pessoas se comunicam e se comportam online. Devido à predominância das comunicações baseadas em texto no ambiente virtual, muitas vezes é difícil captar o tom de voz, expressões faciais e outras pistas não verbais que são facilmente perceptíveis durante interações pessoais. Como resultado, crianças e adolescentes podem ser propensos a fazer julgamentos precipitados e severos sobre as declarações de outras pessoas, o que pode levar a conflitos online, ataques virtuais e até mesmo cyberbullying. Portanto, é crucial engajar os pais, professores e toda a comunidade escolar na promoção da alfabetização digital, refletindo sobre seu comportamento online e cultivando a empatia como parte integrante de sua interação digital.
Também são temas para o exercício da cidadania digital saber proteger seus dados nos dispositivos digitais, distinguir notícias falsas e verdadeiras propagadas deliberadamente no meio digital e incentivar a saúde e bem-estar digital, incluindo a prática de abster-se do uso da internet e mídias digitais por alguns períodos, devido aos efeitos negativos do excesso de tempo diante das telas, como sedentarismo, danos à visão, dificuldades sociais e prejuízos à memória.
Apenas por meio de uma abordagem abrangente e colaborativa, entre família e escola, podemos garantir que nossos jovens estejam preparados para navegar no mundo digital com segurança, responsabilidade e ética, construindo assim uma cultura de cidadania digital que se reflita dentro e fora do ambiente virtual com impacto em toda a comunidade.
Por Sabrina Gomes Freitas, Antiga Aluna, Advogada, Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade Autònoma de Lisboa e Professora da Disciplina Eletiva Global Citizenship Diplomacy do Colégio Anchieta, de Nova Friburgo (RJ)
